César Oliveira

No desdobrar das auroras

Hoje o sol nasceu mais cedo
Pra o índio da recolhida
Que trouxe a eguada estendida
Junto ao primeiro clarão
Faz parte da obrigação
E o coera que não se entrega
Tenteando o grito de pega
Já vem de buçal na mão

Sou cria do reculutra
Sou da costa do banhado
Por isso é do meu agrado
Cortar o rastro da sorte
Ir de encontro ao vento norte
Quebrar meu chapéu na nuca
Pois a vida me cutuca
Pra ser parceiro da morte

Da gosto quando a tropilha
Sente o guizo e vira a frente
Florindo os olhos da gente
Que já nasce pra os arreios
E cresce enfrenando anseios
No desdobrar das auroras
Quando as vozes das esporas
Fazem tantos garganteios

Meu mundo é um galpão de estância
Meu pingo é um flete de guerra
Que pisa firme na terra
Quando venho armando o laço
Meu destino eu mesmo faço
E ao "santo padre" eu entrego
Sei que algum dia eu sussego
Mas não vai ser por fracasso.
Stream naživo