Ana Moura

Não Fui Eu

O Cristo inerte preso à cruz
A luz da vela que o reduz
Á sombra triste na parede entrecortada

Dos lábios solta-se indulgente
A pressa inútil do não crente
Entre palavras que por si não dizem nada

Não fui eu, Não fui eu
Não deixei a porta aberta
Não fui eu, Não fui eu
Ficou-me a casa deserta

Ah como fugidiu rumor
De passos que no corredor
Induzem na minha alma a dor da esperança vã

Sinais do tempo a humedecer
A voz que teima em enroquecer
E o corpo dorido pela noite no divã

Não fui eu...

Como esta febre me destroí
Perdido amor quanto me doi
Desceste em mil cruel manto de tristeza

Em cada noite morre o amor
Que a solidão faz-se maior
Mal amanhece e volta o medo que anoiteça

Não fui eu..